O trabalho dos cartomantes tem se modernizado cada vez mais. Ainda vítimas de preconceito por parte da população, eles incrementaram os consultórios e passaram a atender os clientes de forma mais profissionalizada. A redação web da Rádio Verdes Mares ouviu cartomantes experientes de Fortaleza para entender esse trabalho e esclarecer alguns mitos que existem até hoje. A segunda parte da reportagem será publicada na próxima semana.
Na movimentada avenida Duque de Caxias, no Centro de Fortaleza, uma casa de muro cinza com a placa “Centro Esotérico – Irmã Janaína – Cartas, Tarô, Banhos e Trabalhos em geral – Para o amor, negócios e doenças espirituais. Desde 1990” chama atenção.

Irmã Janaína aceita cartão de crédito e é encontrada no Google pelos clientes. Foto: Raísa Azevedo/Rádio Verdes Mares
Quem pensa que Irmã Janaína é uma cartomante ou cigana convencional está enganado. De unhas feitas e cabelos em dia, ela recebe a Rádio Verdes Mares em sua casa e abre a porta do consultório, cheio de imagens e velas, e com o material utilizado na consulta, em especial, as cartas e os tarôs.
Ela explica de onde vem o nome “Irmã Janaína”, homenagem à Iemanjá, rainha do mar, adoração que veio de família; a mãe da cartomante a influenciou a seguir a carreira. Durante a entrevista, o celular de Janaína toca constantemente. Comenta que fornece seus números pessoais e do estabelecimento, onde mora, para os clientes, e eles a procuram até de madrugada. Fato esse que ela acredita ser o diferencial para ter se tornado uma das cartomantes mais procuradas de Fortaleza. Na pesquisa do Google, ela é a primeira que aparece ao digitar “Cartomante em Fortaleza”.
“O meu diferencial é a atenção dada ao cliente, aconselho-o para o bem. E eu só libero o cliente quando percebo que ele está com o problema resolvido. Esse é o meu trabalho, foi o que eu escolhi”, acredita Janaína.
O Centro Esotérico de Janaína é negócio de gente grande. Algo que chama atenção no consultório é a forma de pagamento, ela aceita os principais cartões de crédito, e a consulta varia entre R$ 40 e 70 (por carta é R$ 40 e por tarô, R$ 50). A consulta geral (tarô e perguntas por meio das cartas) custa R$ 70 e banhos, R$ 20. Ela explica que a diferença é que o tarô é mais completo e aprofundado, já cartas são mais diretas e revelam menos detalhes.
Bastam nome completo e data de nascimento para iniciar a sessão; previsão não é 100% certa
Nome completo e data de nascimento. É apenas disso que a cartomante precisa para iniciar a sessão. Mas Janaína frisa que, nem sempre, os clientes saem com vida resolvida de uma consulta, geralmente, levantam-se mais dúvidas do que resoluções. “Não se resolve problemas através de cartas ou tarô, mas com o trabalho, pode-se auxiliar na resolução de problemas amorosos, familiares, financeiros, espirituais, limpando os caminhos, tirando algum obstáculo que possa incomodar ou prejudicar o espiritual, que reflete na matéria”, comenta.
A Irmã conta que as previsões não podem ser totalmente certeiras porque, por vezes, os clientes não seguem seus conselhos. “Apresenta-se a situação que está causando problemas, os caminhos que se podem percorrer para a resolução, porém a decisão cabe ao consulente, já que existe o livre-arbítrio. A previsão não é 100% certa por conta disso, o cliente pode seguir o contrário das minhas previsões”, afirma.
Cartazes espalhados em postes e paredes das ruas com a frase “Trago a pessoa amada de volta em 24 horas” são a marca registrada da publicidade de algumas cartomantes. Janaína discorda desse tipo de afirmação. “Quem investe nesses cartazes é porque quer chamar cliente rápido. Em Fortaleza, muitos cartomantes novos estão surgindo. Muita gente tem preconceito com a profissão, até mesmo quem se consulta, às vezes, mostra preconceito para as pessoas e, por trás, me procuram. Então, antes de procurar uma cartomante, pesquise”, alerta.
Preconceito ainda é forte contra cartomantes
Ela ainda revela que pessoas de religiões distintas ao Candomblé, como a católica e evangélica, a procuram. Durante a entrevista com Irmã Janaína, três clientes a esperavam para realizar consulta. Uma delas, a publicitária S. C., que frequenta a cartomante há três anos, é adepta da religião católica. Ela comenta que não vê problema em frequentar o Centro Esotérico, mas que já sofreu preconceito por isso. “Deus está sempre em primeiro lugar, sou católica. Faço a consulta como forma de orientação espiritual, não sou do Candomblé, mas respeito e acredito que podemos buscar algum tipo de melhoria e proteção a mais. Irmã Janaína realmente acertou o que eu estava buscando e me orientou”, comenta.
“Já sofri preconceito por frequentar cartomante, principalmente de quem não acredita e não respeita. Quem não entende pensa que é algo apenas relacionado ao mal, criam estereótipos como se fosse uma coisa ruim. A pessoa tem que se informar, estudar sobre o assunto. Não vejo problema em frequentá-la, não estou fazendo mal a ninguém. Para mim, é natural, já para outras pessoas, não se pode afirmar isso”, completa a publicitária.
O trabalho de Irmã Janaína não fica restrito ao consultório, ela também faz despacho de oferendas. “Para eu pedir algo aos orixás, eu preciso dar algo em troca e agradar”.
Pessoas com problemas amorosos são as que mais procuram ajuda
A Irmã conta que seus clientes não possuem perfil definido e atende “desde a doméstica ao advogado”. Sobre o número de clientes que recebe por dia, Irmã Janaína disse que varia muito, mas, principalmente aos sábados, dias mais movimentados, ela atende de oito a nove pessoas, e as consultas são com horário marcado e só têm hora de começar. Pessoas com problemas amorosos são as que mais procuram ajuda. “Quem me procura precisa de apoio espiritual, precisa que eu tenha paciência, escute e aconselhe. Gosto de explicar, detalhadamente, o que saiu nas cartas, quais os problemas, o que a pessoa está precisando, dou opiniões de como deve agir”, afirma.
Por Raísa Azevedo